1 de janeiro de 2010
David de Michelangelo
Outros "Davids" já tinham sido executados por Verrocchio (mestre de Leonardo da Vinci) e por Donatello, mas o de Michelangelo mostra o ideal de harmonia e força que o fizeram o verdadeiro representante da poderosa Firenze da época.
Durante sua execução Michelangelo não permitia o acesso a qualquer pessoa ao local em que trabalhava na escultura de forma que, ao terminá-la, o impacto do porte descomunal daquela figura, aliada à nudez que o renascimento mostrava pela primeira vez de forma ousada, causou na população florentina diferentes reações. Alguns achavam a obra fantástica, outros queriam apedrejá-la. Conta-se que Michelangelo passou algumas noites acordado para protegê-la. Finalmente o tempo mostrou que ali estava uma das representações mais incríveis de uma figura humana com detalhes anatômicos que impressionam a tantas gerações que o vêem.
Alguns trabalhos de Michelangelo são cercados por fatos curiosos que os deixam ainda mais interessantes. Em 1484 um escultor florentino chamado Agostino di Ducio tentou entalhar um bloco de mármore de mais de cinco metros de altura e, após estragá-lo, desistiu do trabalho. Pois foi desse mesmo bloco que Michelangelo fez brotar o David. O local em que Ducio havia estragado foi usado pelo mestre como a região em que não existe mármore, entre as pernas do herói bíblico. O que para uns é o fim da linha, para os gênios...
O David ficou exposto na Piazza della Signoria até 1873, quando se decidiu colocá-la a salvo de agentes atmosféricos que, vagarosamente a destruíam. Foi então levada para a Galleria dell'Accademia onde pode ser admirada. Uma restauração em 2004, em que um polimento minucioso foi executado na escultura, removeu as manchas que os séculos de exposição provocaram no mármore e deixou a obra com todo o brilho que ela apresentava quando de sua criação.
Mais alguns fatos curiosos acerca do David:
- Houve uma verdadeira batalha para se decidir qual o método de limpeza a ser usado para restauração da obra.
- Como esteve ao ar livre por alguns séculos, seus "poros" foram abertos e a poeira alojou-se em toda a extensão do mármore.
- A grande ameaça era o gypsum, um sulfato de cálcio que acumula a umidade.
- O bloco de pedra onde seria esculpido o David ficou exposto ao sol e à chuva por quarenta anos.
- Depois de terminar a obra, Michelangelo passou quatro meses lustrando o mármore.
- Em 1527 o braço esquerdo do David foi quebrado em um motim. A cicatriz do restauro é visível até hoje.
- Em 1991 um "artista" chamado Piero Cannato deu uma martelada num dos dedões da obra mutilando-a. (os imbecis de sempre).
- No século XVI guardiões da moral resolveram acrescentar uma tanga de metal feita de 28 folhas de figo à nudez da obra.
- Em 1995 autoridades religiosas de Jerusalém recusaram uma réplica em tamanho natural do David, presente da cidade de Firenze. Por acreditarem ser agressiva sua nudez exigiam que ela fosse coberta.
Em Firenze, se arme de muita paciência, encare uma fila sempre enorme e se encante com o espetáculo que é a Galleria dell'Accademia. Uma vez lá dentro admire uma das obras mais impressionantes criadas por Michelangelo. É proibido tirar fotos e os vigias estão de olho para, sem o menor constrangimento, se dirigir aos berros a quem desobedece a essa norma. Aqui pra nós, eu me arrisquei. Por sorte não viram. O David é sempre uma emoção.
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